sexta-feira, 17 de junho de 2011

Fora de foco.

olhos (1)

Prefiro enxergar o mundo sem os óculos. Com nitidez, percebemos os defeitos.

Não quero polemizar. Ver é sempre muito bom. Mas ver tudo tim tim por tim tim pode ser doloroso. Melhor ver meio embaçado! Daí você não vê a poeira que não tirou do móvel e não sofre com isso. Não vê o furinho da camisa surrada e não fica triste, porque não tem como comprar outra, no futuro próximo, já que anda muito apertada de dinheiro. Não vê o amarelado dos dentes e dá aquele sorrisão tão lindo mesmo assim, porque a beleza e a intesidade do sorriso vêm de dentro…

Lembro bem das últimas vezes que visitei minha avó antes dela partir. Chamou-me atenção a sujeira da cozinha. Ela que sempre fôra tão limpinha… Pequenas manchas de gorduras espalhadas pelos armários, geladeira e fogão. Mas ela estava tão feliz com a minha visita, que fomos para a cozinha e a sujamos mais ainda fazendo tantas comidas gostosas. Aproveitei, na hora de lavar a louça, e dei uma caprichada maior na limpeza da cozinha toda. Naquele dia eu não entendi. Mas hoje eu entendo. Que grande lição ela deixou para mim!

Minha avó também preferiu enxergar o mundo sem os óculos. Agora sei que, assim, ela foi muito mais feliz! Não perdeu tempo com furinhos, cisquinhos, linhazinhas, poeirinhas e manchinhas de gorduras. Teria dado muito trabalho para uma senhora idosa, que morava sozinha. O melhor foi colocar o seu melhor sorriso e esperar a neta. Em outras palavras, escolher se importar com o que realmente importa.

Sem os óculos a gente também não enxerga a imperfeição humana e acaba aceitado as pessoas do jeito que são: com os seus defeitos e não menos belas por isso. A beleza torna-se relativa. Os atos e as palavras tornam-se mais significativos do que o estético. A moda toma sentido no todo e não nos detalhes. E não há mais diferença entre o ouro puro e o dourado folheado!

Perdendo o foco, quem sabe a guerra perca o sentido e vivamos verdadeiramente em paz?

robertcapadiad

(foto: Robert Capa)

“Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.” (Fernando Pessoa)

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